2004-10-08 - Direitos ao assunto!

08-10-2004 16:58

É de todo incontornável, para quem quer partilhar “assuntos” não fazer qualquer referência que seja ao actual estado da “nação”. E digo “nação” porque me parece que não há quadrante nenhum onde a novela do professor não chegue... Perdoem-me a franqueza mas parece-me que, mais uma vez, a especulação prolonga-se e toma conta do espaço que uma análise séria e eficiente deveria ter... 

Devo dizer que partilho as opiniões que dizem que o Ministro dos Assuntos Parlamentares, Rui Gomes da Silva, esteve muito mal. Dizer que ouviu “inverdades” e insurgir-se contra elas seria legitimo, pelo contrário, não o é reclamar “contraditórios” que felizmente existem, chamar a Alta Autoridade para o “barulho”... Excedeu-se na indignação, não reagiu como se reclama que qualquer político com responsabilidade o fizesse. Parece muito gasto, mas que tire, ou então que alguém por ele retire, as consequências devidas pelo “facto”! E ponto final!

É que, felizmente, o nosso Estado de Direito – expresso no texto constitucional – é “baseado na soberania popular, no pluralismo de expressão, (...), no respeito e na garantia de efectivação dos direitos e liberdades fundamentais (...). “O Estado deve assegurar a possibilidade de expressão e confronto das diversas correntes de opinião”. Trata-se de uma “conquista de Abril” que permanece imaculada.

Tenho a certeza que não estamos perante nenhuma “censura ditatorial” e as “vozes que não deviam chegar ao céu...” mais não são que baterias apontadas a Santana. Sim, porque não há muito tempo percebemos a imensa guerrilha disposta a minar o trabalho deste Governo, a quem nunca reconheceram legitimidade... Esta gente que vem de dentro e de fora das cores da maioria saliva de desejo e de felicidade por episódios como este. Não admira por isso todo este sururu nos jornais, na televisão...

No caso concreto, e até prova em contrário, todo este episódio não passou de um comportamento ingénuo de um Ministro... É que se repararem bem nos discursos daqueles que querem politicamente aproveitar a actual conjuntura, a palavra mais ouvida é: eventualmente! Eventualmente existiram pressões..., eventualmente o Governo tem responsabilidade... Enfim, dão-se grandes voltas para nunca chegar a lado nenhum.

Eu também sei “especular”, é fácil e tem o seu sentido! A imagem de Marcelo estava a desgastar-se... O programa tinha quatro anos e meio... Existirá, porventura, um acordo milionário com outra emissora... Ou melhor ainda, com Santana no Governo, afastado assim da corrida à Presidência da Republica, a pouca vontade de Cavaco Silva, não foi este o “golpe de mestre” que elevou o Professor a uma condição que só se reconhece ao Chefe da Nação? Desde já começa a reunir em seu torno consensos que vêm de todos os quadrantes politico-partidários!

Ainda para mais, deixem-me que lhes diga que reconheço a Marcelo uma inteligência, uma sagacidade, que não posso conceber como submissa a quaisquer pressões, sejam elas quais forem. Se ele quis sair, (leia-se nas três linhas do seu comunicado “decidi cessar”), alguma razão ele terá... E sendo ele a figura pública que é, julgo que teria obrigação de explicar – onde bem entendesse (não quando bem entenda...) – as razões que o moveram... Deixar continuar a especulação é que não! Ou será que quer deixar acabar a “saliva”...

 

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Jose Augusto de Jesus