2004-12-06 - Direitos ao assunto!

06-12-2004 17:15

E o virtual lá passou a real…

 

Como dizia o outro: “parece eu que adivinhava…” Acabou o (des)governo de Santana Lopes. O mais engraçado é que a tradicional oposição nada teve a ver com a coisa, pelo menos à vista desarmada! Todavia, também não é caso para apontar só para Santana e para a coligação que governava. E os cenários agora são imensos… Algumas reflexões têm a sua pertinência.

Em primeiro lugar não podemos esquecer que este Governo nasceu condicionado. Isto é, em tempo algum (talvez com medo do que veio a acontecer) Santana teve a liberdade, que qualquer PM (Primeiro-Ministro) deve ter, para formar uma equipa verdadeiramente sua. Ainda por cima, o programa de Durão foi “hiper”-subscrito pelo PR (Presidente da República) que desde o início impôs regras, noutras circunstâncias inadmissíveis, para o funcionamento do executivo. Apesar de tudo, o PM falhou na capacidade que deveria ter tido de “calar” os “roedores” que lhe minaram o percurso. O PM falhou na liderança daqueles que lhe deviam a “vénia” institucional e que o “apunhalaram” por actos e omissões… Falhou, por exemplo, quando não soube mostrar a transparência que se lhe exigia na ligação do “poder” com a comunicação social. Nada que não estivesse sob a sua jurisdição, debaixo do seu tecto!

Vamos ver agora a capacidade de mobilização do líder Santana, a viabilidade de uma nova AD. Se conseguir vencer as legislativas irá surpreender tudo e todos, não é impossível, mas… Apesar de ninguém duvidar do “toque” de Santana, não sei se este será suficiente para destronar o PS de Sócrates de uma vitória que é quase certa!

A vitória do PS nas próximas eleições, a concretizar-se, será uma verdadeira “oferta”. Sem querer de modo algum retirar o brio político a Sócrates, a sua serenidade quase “guterrista”, sem duvidar da sua legitimidade e capacidade para formar um novo governo, não seria realista dizer que ele conquistou o “poder”. Aliás, pouco o PS de Sócrates fez até aqui para o merecer. A demonstrá-lo, está agora o “grupo dos 10 magníficos” (ainda não percebi o termo romancista…) encabeçados pelo carismático ex-comissário europeu, António Vitorino – que com esta proximidade, na minha opinião, compromete a sua eventual candidatura Belém… Estas dez individualidades vão tentar criar o rumo que o PS ainda não tem, apesar dos líderes socialistas se fartarem de dizer que estão prontos para Governar.

Porque o espaço é curto, não quero terminar sem me referir mais directamente à decisão do PR. Apesar de legítima (cumpridas que sejam as normas fundamentais – art.º 133º da CRP), ela é reveladora de alguma falta de firmeza… Parece mais um “murro na mesa” que algo muito pensado e ponderado. Porquê? O PR ainda não explicou os motivos da sua decisão e nem sequer a comunicou oportunamente ao Presidente da Assembleia da República que tomou conhecimento desta decisão pelos media… Nem parece dele…

Desculpem mas esta não pode ficar na “gaveta”, para quem lê o “Expresso”: com Sócrates no Governo, será muito mais fácil a Cavaco Silva assentar em Belém. Não me admira nada que conhecidas as “certas” sondagens ou pouco depois de o PS vencer as eleições, o “tabu” desapareça! Apesar de muito admirador do percurso político de Cavaco silva, parece-me que não terá tido o “bom tom” que se lhe exigia nestes momentos. Pecou também por inoportunidade…

 

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Jose Augusto de Jesus