2004-12-12 - Direitos ao assunto!

12-12-2004 17:17

Quem não se sente, não é filho de boa gente…

 

Foi com alguma admiração e perplexidade que assisti a mais um acto desta novela política que é a crise instalada entre Belém e o Governo… O PM anunciou a demissão do Governo! Mas, depressa me passou esse sentimento.

Apesar de ouvir alguns comentadores acompanhar a opinião do novo líder do “velho” PCP, não me parece que seja uma estratégia de “vitimização”. Fazer de “vítima” seria “amuar” e fazer “queixinhas” a tudo e todos porque o PR decidiu isto ou aquilo. Aqui…, pelo contrário, Santana e Portas assumiram uma posição de força, que baralhou o PR, bem como toda a oposição. Afinal o Governo está vivo! Fontes próximas do PR disseram que ele ficou surpreendido…

Uma coisa é certa, caros amigos, a legitimidade que nunca ninguém discutiu nem pôs em dúvida para a decisão do PR é rigorosamente a mesma que assiste a esta demissão. Não se trata de ser vítima. Tão pouco será uma “declaração de guerra” como muitos “aproveitadores” a querem definir! Temos que ser honestos e partir da essência. Existem poderes que são soberanos, com atribuições e competências que são próprias. Cada um as deve usar na melhor oportunidade e em benefício de todos. As mesmas atribuições e competências permitem a um Governo demitir-se! Apesar do resultado prático desta decisão para o percurso do executivo até novas eleições não ser nenhum, o caminho e os discursos dos partidos vão forçosamente ser outros. E ainda bem que é assim… Santana e Portas não vão dizer que os mandaram embora (coitadinhos…), vão dizer antes que a crise que foi criada não lhes deu condições para continuar a Governar e vão explicar o que ficou por fazer e que é preciso continuar ou mudar… Os portugueses conhecem bem a expressão popular que diz que “quem não se sente não é filho de boa gente…”. Sinceramente, a postura e a dignidade são outras neste momento…

E no “daqui para a frente”, é inevitável tocar no tema da coligação ou não entre o PSD e o CDS-PP. Uma verdadeira “espada de dois gumes”… Se por um lado a união demonstrada entre os dois partidos enquanto Governo deu no que deu, independentemente das opiniões de cada um, por outro, a separação pode abrir fendas. Neste momento, o PS (grande beneficiado com esta conjuntura) irá aproveitar para dizer que a coligação não teve sucesso e, com muita razão, por “casos internos”… Disputar eleições contra uma AD não passaria disto e a vitória da esquerda estaria “mais” garantida.

Outro cenário, que me parece mais acertado, apesar de perigoso, será cada um seguir a sua estratégia e, a haver aproximações, elas que se façam depois dos resultados eleitorais. O “toque” de Santana, a sua capacidade mobilizadora (e na mesma medida de Paulo Portas) ficaria enfraquecida pela sombra do parceiro. O perigoso está em que, indo cada um por si para eleições, mais tarde ou mais cedo terão que se defrontar e quiçá “afrontar”. Gerir nessa altura os ânimos é que vai ser duro. Será que as marcas que ficarem não poderão ser obstáculos intransponíveis para coligações pós-eleitorais?

Todavia, insisto, estes “assuntos” só se justificarão no caso de não se verificar a quase certa vitória socialista…

A terminar faço um desejo: ao menos, haja debate político! Não debate de decisões certas ou erradas do passado, antes de propostas em que os portugueses se vejam como protagonistas. Quer de um lado, quer doutro… Sócrates começou bem e já disse que se for para o Governo nunca dirá mal dos antecessores, pega no bom que ficou e procurará fazer melhor… Parece-me bem! Esperemos pelos programas…

 

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José Augusto de Jesus