2004-12-20 - Direitos ao assunto!

20-12-2004 17:20

Um pedido ao menino Jesus…

 

Depois de várias semanas a falar sobre a “novela” do nosso país real, o espírito natalício leva-me a paragens mais altas! Quase inalcançáveis…

Apetece-me hoje partilhar o que sinto em relação à sociedade actual, nomeadamente política, que me escuso (propositadamente) a tipificar.

O mundo mudou, assiste-se a uma “real fragmentação dos vínculos tradicionais e à afirmação emergente da diferença de posição ou posicionamento como elemento constituinte do próprio processo democrático” – disse já João de Almeida Santos. Esta afirmação resume na perfeição a evolução que muitos políticos de hoje tendem em não aceitar. Não me vou demorar na História para ir directo às conclusões, onde encontramos por exemplo uma que diz que “o partido”, em sentido estrito, deixou de fazer qualquer sentido. As sociedades, as democracias de hoje são altamente complexas e diferenciadas. Não se podem ficar por concepções finalistas e totalizantes. Os políticos, de seguida o próprio legislador, devem compreender os movimentos, as minorias, as “infra-culturas”, os “sub-domínios” que a cada dia que passa se exponenciam…

Gostaria de poder aprofundar mais este “assunto” e para isso tomar como ponto de partida a crescente abstenção (eleitoral) que se verifica, aliás, a nível mundial. Cada vez mais assistimos ao nascimento de “domínios” e “sub-domínios” que se identificam com um rumo que não se compadece com siglas de tipo “psd” ou “ps”… Talvez por isso se verificou a subida de notoriedade de pseudo-partidos com tendências extremistas, cujo o discurso, a meu ver perfeitamente anárquico e perigoso, caiu no goto dos “inconformados”. Estes que fazem parte da tal ramificação crescente que venho referindo, onde uma das características é o inconformismo. Não tanto voluntário, mais intrínseco!

É por isso que neste ponto concreto da participação política que tantos reclamam, assunto da maior actualidade quando um país como Portugal, em 2005, pede aos seus cidadãos que vão às urnas quatro vezes (!), os responsáveis políticos são chamados a criar estruturas que abarquem estas novas realidades. Devem primeiro “fomentar” interesse…, manter fóruns de opinião com mais frutos que a simples mostra de vontades, onde, em seguida, os “destacados” revejam na prática os seus desejos legítimos. Não basta mostrar um programa (que nunca se cumpre…), é preciso ir além… Os partidos devem, apesar de manter os seus princípios orientadores, não fechar a porta a outros conceitos de “res publica”, alargar o seu campo de trabalho e, em consequência, daí retirarem mais apoios (votos). E não é preciso ir muito longe, basta ter um computador e fazer uma pesquisa no “google” para se perceber este dinamismo urgente. Ninguém duvidará que a sociedade da informação provocou uma evolução tão “acelerada”… que hoje em dia deixou de ser um adjectivo para uma época, para passar a ser a causa de um efeito que se pretende no futuro como “Sociedade do Conhecimento”. Os partidos, caso pretendam subsistir, devem acompanhar estas “actualizações”.

Existe um denominador comum é claro! O Estado (regido por um produto partidário…) deve, numa perspectiva que vai do constitucional ao regulamentar, manter as suas competências e atribuições para garantir aos cidadãos as melhores condições de vida, nomeadamente, na educação, na saúde, na justiça e por aí fora. Mas deve também compreender que os meios hoje são outros! Deve ir mais além, ou “mais popularmente” deve ir mais fundo! A ideia de cidadania no mundo contemporâneo está profundamente alterada. Para que não continuemos a fomentar o crescente activismo de “quintal” ou de “novela”, cada vez mais visível pelas janelas da informação, é bom que o menino Jesus abra o espírito dos responsáveis… nomeadamente (para não fugir ao exemplo), dos políticos. Votos sinceros!

 

PS: Um feliz Natal para todos!  

 

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José Augusto de Jesus