Por falar em identidade!

10-12-2012 10:22

Praça 15 de Dezembro no CartaxoO tema de hoje é recorrente, mas não perdeu atualidade. Há poucos dias atrás tive oportunidade de ler a opinião de um ilustre cartaxeiro, pessoa que muito prezo, referindo-se ao Cartaxo. Segundo ele o Cartaxo é cidade mas de cidade tem pouco! O pavimento das estradas está sempre a precisar de reparação, a iluminação pública raramente funciona, os jardins foram assassinados pois mataram as flores, as árvores e a relva, destruíram os bancos e despediram o coreto. Nada mais resta que um deserto, e como deserto, está maltratado.

Obviamente esta é uma opinião que partilho há muito. E não devo ser só eu. O estado deste nosso Cartaxo é visível e perceptível por todos.

Com certeza todos nós nos lembramos da famosa e muito animada Praça 15 de Dezembro. Já não existe! Em seu lugar temos hoje um projeto mal executado que chamaram de regeneração urbana. Era suposto ter sido criada uma nova centralidade urbana, que cativasse e unisse as pessoas num espaço de bem estar, com animação, perto de serviços e do comércio. Para que estes também pudessem ser potenciados e ajudados em tempos em que bem precisam desta ajuda. Mas o falhanço foi clamoroso!

A regeneração urbana não é o que hoje temos no Cartaxo. A regeneração ou reabilitação urbana compreende conceitos de mobilidade, território dinâmico, ambientalmente sustentável, competitivo e atrativo. Inclui proporcionar às pessoas equipamentos e estruturas de lazer e de cultura direcionadas também para a criação de novas oportunidades de negocio, turismo e, no final, melhor qualidade de vida.

Mas o que temos hoje é muito diferente! Um deserto sim, é uma boa definição! Hoje, as pessoas não circulam no centro do Cartaxo. Quem chega ao Ateneu Artístico Cartaxense e pretende ir para a Rua Serpa Pinto encontra um curto mas penoso caminho. Quem sobe junto aos Bombeiros Municipais e faz o caminho inverso depara-se com o remendo de um passeio para carros, com pilaretes de um lado e outro.

Era suposto existirem zonas de lazer e animação junto à Praça de Touros. Mas o que antes servia de anfiteatro natural, com árvores e relva, e proporcionava algumas atividades culturais bem enquadradas, nada mais é hoje que um memorial ao capricho inadmissível, com cimento e sem funcionalidade. O jardim frente à câmara com as suas árvores, flores e bancos onde os noivos que saiam da igreja já casados iam tirar fotografias, desapareceu para dar lugar a terraço sem vida vigiado, por obrigação, por um mui ilustre cartaxeiro deslocado, de seu nome Marcelino Mesquita.

Para o comércio e para os serviços, os mesmos que já existiam antes desta malfadada intervenção, as consequências são tudo menos criação de novas oportunidades de negócio. As pessoas vão dando cor e vida aos negócios que oferecem, mas para quem as conhece e ainda reconhece. Porque novas oportunidades de negócio é algo que é cada vez mais raro. Alguém me lembrava há pouco tempo que pela antiga Praça 15 de Dezembro paravam muitas excursões, muitos visitantes que beneficiavam da característica hospitalidade cartaxeira. Visitantes que deixavam em troca algum do sustento do comércio local. Agora? Alguém os vê?

O centro do Cartaxo é hoje frequentado por quem tem mesmo que passar ou viver ou trabalhar por lá. Aproveitando somente alguns pormenores sem grande significado, a chamada união dos jardins, que deu lugar ao chamado parque central, não é atrativa. 

Temos de lembrar as erradas opções políticas tomadas neste passado recente, por quem tem a competência de zelar e servir as populações eleitoras, que também esqueceram o resto da cidade. Temos passeios, ruas e estradas que mostram as chagas do esquecimento e desmazelo. E os jardins da cidade? Os espaços verdes das urbanizações ainda tão recentes, cujos empreiteiros foram obrigados a acondicionar com equipamentos de lazer, foram abandonados!

Por capricho, não só, mas sobretudo, desapareceu uma simpática e muito apreciada vila ribatejana. Hoje o Cartaxo até pode ser chamado de cidade, mas uma cidade esburacada, suja e feia. Os tempos que correm são difíceis como todos nós sabemos. Pelo cenário acima descrito já não se trata só de manutenção. Julgo que para recuperarmos alguma da identidade gloriosa do passado é necessário mais! É necessário investimento. Mas investimento nesta altura? Será possível?

 

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José Augusto de Jesus